15 julho, 2013

Man Of Steel (Zack Snyder, 2013)



Muito embora possa se ler nos créditos ao final de Man Of Steel que ele tenha sido dirigido por Zack Snyder, a impressão que dá é de que o diretor se entregou completamente aos desígnios da cabeça megalomaníaca de seu produtor, Christopher Nolan, que, este sim, parece ter dirigido o filme.
Snyder é um caso muito particular no Cinema. Após uma estreia muito promissora com um remake de George A. Romero (Dawn Of The Dead, 2004), fazendo um filme muito consistente e com um final completamente desesperador, ele realizou o filme que definiria o seu estilo de filmagem e o deixaria famoso em todo o mundo, um "aborto estético" chamado 300. Após isso, colocou nas telas o seu projeto mais pessoal e apaixonado, tendo-se voltado novamente para o universo das histórias em quadrinhos (Watchmen, 2009).
A partir de 300, Snyder não conseguiu controlar mais os seus fetiches com a câmera (abuso de CGI, câmera lenta excessiva nas cenas de luta, universos ficcionais completamente inverossímeis etc.). Para o bem (Dawn Of The Dead e Watchmen) e para o mal (300 e Sucker Punch), o seu jeito particular de filmar representava algum tipo de autoralidade no cinema comercial americano, porém o que se vê em Man Of Steel é uma total perda dessa identidade atrás das câmeras. Durante a projeção, parecia que a qualquer momento o Batman de Nolan apareceria ali para ajudar o Homem de Aço, ou seja, está muito mais para um filme de Nolan, tentando alçar voos mais altos com um herói super poderoso dessa vez, do que para um filme de super-herói de Snyder, como fora Watchmen, que apesar de todos os seus excessos, é muito mais bonito e consistente que esse filme confuso do último filho de Krypton.
Pessoalmente, eu vejo com muito pesar o que Christopher Nolan vem fazendo com o cinema de super-heróis de hoje (para quem não sabe, ele dirigiu essa última trilogia do Batman). A troco de conferir algum tipo de crítica política a sociedade atual em algo que é altamente lúdico e atemporal como os super-heróis dos quadrinhos, ele faz filmes grandiloquentes, pesados, entediantes e com personagens tão desumanizados que é impossível criar algum tipo de empatia por qualquer um deles, à exceção do maravilhoso Coringa de Heath Ledger, esse sim, histórico, diferentemente do filme do qual participa.
É exatamente desse mal que sofre o mais novo filme do Superman, de longe o personagem mais interessante do universo DC Comics. A última incursão de Kal-El nas telonas tinha sido o subestimado Superman Returns (2006) de Bryan Singer, que para mim é o melhor filme já feito de um personagem da DC. Esse filme se configura como uma verdadeira antítese para esse novo filme de 2013.
Snyder, para apresentar uma visão naturalista e mais humana do personagem, desconstrói toda a sua mitologia, o exato oposto do que Singer fizera. Ele faz questão de retirar todos os signos clássicos que o caracterizam como um mito: o bom-mocismo, o corte de cabelo, o repórter, o "S", a Lois Lane indefesa e até a cueca por cima da calça, para apresentá-lo como um homem, ou melhor, como um Deus na forma de homem, o que o aproxima muito de uma nova visão de Cristo. O Superman, nesse filme, é claramente apresentado como o Cristo daquele universo. É como se essa fosse a maneira de introduzir um personagem tão poderoso como ele, quase imortal, num espectro de humanidade. Ele é enviado por seu pai a Terra e aos 33 anos desperta para salvar os humanos, aos quais se entrega, sempre pacificamente, quando é hostilizado ou incompreendido pelos seus "irmãos" da Terra, que escolheu proteger de todo o mal.
Todo o fio condutor do filme é muito chato, começando com uma batalha intergalática muito sem-graça em Krypton e terminando trazendo a mesma para a Terra, mais ou menos como ocorre no chatíssimo filme do Thor (2011).
Henry Cavill faz um Superman completamente robotizado que só sabe franzir a testa e nada mais, muito inferior ao seu antecessor Brandon Routh, que havia sido uma excelente descoberta, que provavelmente ficará restrita ao filme de Singer. Mas o que pesa mesmo contra o filme é a presença em cena de alguns coadjuvantes: Russell Crowe faz um Jor-El fantasma e onipresente no filme, sendo que sua presença deveria claramente ficar restrita somente ao seu início, passado em Krypton, Michael Shannon faz um General Zod histriônico demais e bem confuso com suas intenções, mas o pior de tudo é a presença ininterrupta da Lois Lane na trama, ela funciona quase como uma heroína no arco dramático do filme, o mesmo papel do Comissário Gordon nos filmes do Batman. Está presente em todas as situações e, mesmo que resolva algumas questões, sempre parece não possuir muita função naquele espaço cênico, além do interesse romântico do herói, mesmo não havendo quase nenhuma química entre os dois. Amy Adams é uma excelente atriz, mas aqui sua Lois Lane nunca parece ser a Lois Lane a qual conhecemos. Mesmo a interpretação um tanto limitada de Kate Bosworth no filme anterior parece léguas a frente da de Amy.
Assistindo Man Of Steel fica a certeza de que a influência de Christopher Nolan no cinema de heróis, que o faz ser tratado como cinema de arte, mesmo que indireta, só contribui negativamente a esse universo e o faz perder toda a vivacidade e luminosidade representativas de boa parte da infância de muitas pessoas que cresceram lendo essas histórias e hoje são obrigadas a ficar 3h no cinema assistindo filmes escuros e vazios que parecem dizer algo sobre a sociedade, mas não falam de nada além do ego de seus criadores. Por favor, que Nolan nunca leia gibis da Marvel.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito bom

sábado, 20 julho, 2013  

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