09 janeiro, 2011

Ornitorrinco nas Colinas


Cá estou eu, caros amigos, amigas, ornitorrincos e ornitorrincas desse meu amado país! Após uma insistência incessante por parte de meu animal de estimação, Xaveco, resolvi postar algo aqui para acalmar os ânimos que clamam veemente por segundos do meu tempo...

Bom... Eu gostaria de marcar essa minha volta, após longo período de inatividade nas Filipinas, contando uma história que se passou em uma colina, em um momento não tão longínquo.

Hipoteticamente falando, quatro pessoas resolvem ir a uma praia. Chega-se lá e uma delas, beirando os seus 80 anos, reclama de tudo. Até aí tudo bem. Depois resolvem ir comer em um restaurante sem dinheiro. Tudo bem mais uma vez, nada demais eu diria. O problema todo encontra-se na volta. Percebe-se logo que há uma fila paralela para o acesso ao transporte público no local. Logo chega aos ouvidos desses quatro indivíduos que tal fila é exclusiva de um seleto grupo de seres e estes teriam o "direito" de entrar primeiro. Eis, deste modo, que surge o conflito: por que um seleto grupo tem de ter acesso preferencial? O que os torna melhores que os outros?

Pensando mais além, podem surgir argumentos vazios tais como: "Ah, são moradores da região, portanto deveriam ter esse direito, uma vez que nós estamos aqui só pela diversão". Prontamente refuto esse argumento. O que tem a ver a questão de ser morador e ter preferência nesse caso? Somos todos iguais, tirando a mim é claro, ser supremo, magnânimo e sem igual. A única diferença aqui é o adjetivo, uns são moradores e nós não-moradores. Tirando isso não há nada mais que os qualifique de maneira diferencial. O tempo desse seleto grupo vale tanto quanto o nosso, não sendo portanto passível de comparação. Outro argumento ouvido fora: "Imagine se o morador precisar ir a algum lugar, teria que entrar nessa fila enorme e não sei mais o que". Novamente temos aqui um argumento raso como uma poça de chuva e cai na contraposição apresentada anteriormente. Nesse caso, eu poderia apenas dizer a eles: "I'm sorry". Claro, que em caso de uma necessidade, o bom senso deveria imperar e o necessitado seria implicitamente possibilitado de passar a frente. Contudo, aí entra um ponto extremamente interessante das relações humanas que são os pactos sociais ocultos que se formam. Vive-se em uma sociedade em que o coletivo não é respeitado. Pensa-se só no Eu esquecendo que vive-se em um meio plural, onde cabe apenas o Nós, Vós e Eles. Daí, decorre a formação de um pacto: os moradores devem ter o direito de entrar primeiro, pois nós estamos invadindo sua moradia e como tal eles tem seus afazeres e nós estamos aqui só a passeio. Note, contudo, que tal pacto é a forma não material da sociedade egocêntrica a qual fazemos parte. Se o bom senso fosse parte integrante de todos, não haveria sequer hipótese que justificasse sua formação, uma vez que naturalmente as relações sociais cognitivas se acertariam.

É isso aí, escrevi, escrevi e escrevi e nada disse, saca? ¬¬